26 Agosto 2023
O último livro de Andrea Grillo – “Se il sesso femminile impedisca di ricevere l’ordine. Ventiquattro variazioni sul tema" [Se o sexo feminino impede que se receba a Ordem. Vinte e quatro variações sobre o tema] – é aqui analisado e comentado pelo teólogo e canonista italiano Umberto Rosario Del Giudice, professor do Instituto Superior de Ciências Religiosas “Donnaregina”, de Nápoles.
O artigo foi publicado por blog Theoremi, 22-08-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Theologia gaudia beatorum amplificat.” A frase que remete à forma das composições musicais e a leitura do último livro de Andrea Grillo me fizeram pensar nos efeitos da música elencados no “De inventione et usu musice”, escrito em Nápoles entre 1473 e 1474 por Johannes Tinctoris [1]. Dentre os efeitos elencados [2], o terceiro afirma que, com a música, “a alegria do bem-aventurado é amplificada” de modo “honroso e deleitoso”, pois ela mesma é “deliciosa” e “honesta”. Daí o título desta minha breve intervenção. Não só a música, mas também o bom trabalho intelectual abre o coração.
O texto de Grillo, apresentado em forma de composição (tema, variações e retomada), é um exemplo de esforço intelectual que verdadeiramente gratifica as tensões de quem, por serviço e por profissão, se ocupa de teologia. E uma boa “teologia alarga o coração” e abre os olhos.
Referindo-me à resenha que será publicada em breve na revista Apulia Theologica (da Faculdade Teológica da Puglia), gostaria de oferecer aqui uma síntese de alguns pontos valiosos contidos no livreto de Andrea Grillo, intitulado “Se il sesso femminile impedisca di ricevere l’ordine. Ventiquattro variazioni sul tema” (Ed. Cittadella, 2023, 202 páginas).
Todo o texto parece precioso não só porque abre perspectivas que devem ser desenvolvidas e que requerem uma reflexão profunda, mas também porque exprime a imprescindível necessidade de um magistério teológico que não permaneça ligado aos argumentos indicados pelas declarações oficiais, mas seja capaz de ser ele mesmo, ou seja, exercer o serviço de verificação, com método, das argumentações e das lógicas.
“Se o sexo feminino impede que se receba a Ordem. Vinte e quatro variações sobre o tema”, em tradução livre, novo livro de Andrea Grillo (Foto: Divulgação)
O texto, embora se apresente como uma releitura de alguns artigos publicados no blog Come Se Non, também oferece algumas ideias novas (por exemplo, parte da variação XX, toda a variação XXIII e outras partes, além do “tema” e da “retomada”), à qual deve ser acrescentada a variação XXIV como nota bibliográfica.
Em geral, as “variações”, segundo a linguagem das composições musicais das quais o autor também é um sábio apreciador, do século XV musical são “embelezamentos” no que diz respeito à execução do tema principal. Aqui, porém, as variações aparecem não como simples ornamentos: mostram um “virtuosismo” (para permanecer na linguagem musical) que deve ser reconhecido (pois é justo reconhecer os “carismas”) e que leva a uma metodologia teológica e a uma lógica sistemática que não devem ser desperdiçadas.
O autor, não por acaso homenageado pela Sociedade Europeia de Teologia Católica com o prêmio de “Livro Teológico do Ano 2019-2020” por um estudo sobre a Eucaristia, parece passar com este texto do âmbito da iniciação (e da formação) ao do serviço eclesial.
Na realidade, não se trata de transitar para outros temas (já abordados também em outros lugares), mas de um trabalho contínuo sobre o vasto mundo da sacramentária, realizado com rigor e precisão. Assim, para o sacramento da ordem, o delicado tema da relação entre “sexo feminino” e “ordem sagrada” é abordado destacando o anacronismo de algumas posições e a continuidade de alguns dados doutrinais, evitando a confusão entre dados históricos e doutrinas que não têm nada em comum com a “revelação”. E, nesse sentido, o texto apresenta vários aspectos fundamentais no que diz respeito à relação entre método e lógica, sistemática e sacramentária, doutrina e história, magistério e tradição.
Gostaria aqui de apresentar brevemente esses binômios segundo uma leitura transversal para reiterar, com o autor e segundo o autor, alguns princípios que vão até além do objeto do texto (do qual cito as páginas abaixo), embora retomados no contexto do tema apresentado.
Método e lógica
É claro que o método teológico não pode ser condicionado apenas pela defesa das declarações do magistério hierárquico. Tal caminho não seria um “método” para apreender a realidade, a natureza, a qualidade do objeto a ser estudado; seria uma forma de servilismo intelectual, que serviria apenas para depender e expressar em diversas articulações o que o magistério hierárquico estabelece.
Pelo contrário, o método deve se fundamentar na verificação das fontes e na capacidade de discernimento que “pode permitir que a Igreja supere aquela rigidez que muitas vezes nasce do medo e do preconceito” (p. 23). A teologia não é chamada a afinar estratégias de defesa para conservar uma doutrina. Se o magistério teológico se limitasse a defender “declarações de doutrina”, se desviaria do seu munus e, ao fazê-lo, trairia a Igreja e o magistério hierárquico.
Acho que isso deve ficar claro, porque muitas vezes as reflexões dos teólogos são acolhidas com a “categoria da suspeita”, enquanto não se percebe que muitas palavras perdem seu próprio ministério docente ao reciclarem posições obsoletas e mortificarem intelecto e fé. Repropor e rearticular a palavra do magistério hierárquico faz parte da função da teologia: mas é apenas uma parte; por isso, certamente não pode ser assumido como um método geral.
Também devido a um mal-entendido exercício da autoridade do magistério hierárquico, muitas vezes se confunde a autorreferencialidade eclesial com a fidelidade à tradição: e é por isso que alguns olham com suspeita até mesmo para as indicações da Amoris lætitia que abriu novas perspectivas (cf. pág. 21).
O discernimento, para o método teológico, não deve ser entendido como simples instrumento para aumentar as “estratégias de inclusão”, afastando os desenvolvimentos (cf. p. 22). Neste caso, o discernimento vale como uma “mudança de paradigma” (cf. pp. 117-118) e de verificação das possibilidades de atribuir às mulheres o exercício de um ministério (cf. pp. 113-114) para além de uma mera participação em uma forma ativa e instituída, mas “não ordenada”.
A riqueza que também conserva e propõe a diferença no feminino para a práxis eclesial só é tal se for acolhida “na ordenação”: fato que deve ser verificado sem ambiguidades. Um método teológico que permaneça na impossibilidade apriorística de verificar o objeto de reflexão não pode ser chamado de “método” e não pode ser “teológico”. Por isso, é evidente que o discernimento não vive sem um método científico e uma lógica congruente: discernimento, método e lógica, se postos para trabalhar em uníssono, são capazes de oferecer uma verificação que é ao mesmo tempo histórica, antropológica, cultural e pastoral. São abordagens metodológicas que podem garantir a superação daquela difícil relação entre a Igreja e o mundo, ainda muitas vezes vislumbrada através das lentes das reações ao modernismo (cf. pp. 39-40), das quais decorrem estilos de reflexão teológica demasiadamente enraizados na defesa de doutrinas e de doutrinas apenas defendidas. Uma “reação” perigosa, pois muitas vezes as doutrinas que hoje são defendidas com todo o vigor intelectual amanhã podem se revelar completamente infundadas. É o caso daqueles teólogos que, como recorda o autor, em meados do século XIX “perdiam seu tempo procurando justifitivas teológicas para a escravidão” (p. 29).
Não há dúvida de que a pesquisa teológica também vive de paixão; mas se esta substituir completamente o método de verificação e de pesquisa, as lógicas que daí podem surgir tornam-se infundadas e irrelevantes e, às vezes, perigosas. Esse é um primeiro fato que pode ser facilmente percebido a partir da leitura do texto.
Sistemática e sacramentária
Um dos descuidos dogmáticos que o texto evidencia é o da separação definitiva entre conformação a Cristo cabeça e conformação a Cristo servo (cf. p. 19). Desse modo, a diferença entre “sacerdócio” e “ministério”, que também justifica a atual estrutura doutrinal do Catecismo e do Código de Direito Canônico em referência à necessidade do exercício da função de Cristo cabeça para justificar o poder de governo e a hierarquia, perde a sabedoria que a tradição pede para conservar: vale a pena recordar, de fato, que quem preside o culto, dentro da tradição cristã, exerce um papel de autoridade do mesmo modo que quem anima a caridade. Se o serviço aos pobres, à palavra, à mesa e a presidência da mesa vierem a se encontrar decididamente em uma posição radicalmente oposta, a decisiva separação entre ministério e sacerdócio continuará produzindo distinções de uma sociedade de desiguais que separa e perpetua diversas “dignidades”. É um tema que deve ser abordado e reelaborado para toda a sacramentária.
Para o tema em questão, porém, não basta uma abertura ambígua ao ministério de um “diaconato feminino”, quase como se se pudesse “reintroduzir” um ministério diaconal “secundário”, de pouca importância, outrora reservado à ministerialidade funcional das mulheres (como afirma Menke, p. 26). O reconhecimento passa pela valorização da capacidade de autoridade plena das mulheres.
É preciso acrescentar que, se a “lógica da representação sacramental” se reduz à “qualidade biológica” do ser masculino (cf. p. 126) perde-se completamente a função icónica e, eu diria, simbólica da representação e da presidência. Uma redução que, a meu ver, persiste em quase toda a sacramentária e persiste no “poder de ordem”, embora de formas diferentes e com consequências diferentes.
Ao lado desses, outro descuido evidenciado é o de ter confundido, nestes últimos 200 anos, a “argumentação contingente” com a “argumentação substancial”, enquanto até o Concílio de Trento havia conseguido salvar a “substância” dos sacramentos (cf. p. 182). Tal confusão fica evidente na constatação de que a incapacidade da mulher à Ordem, pressuposto nascido em contextos em que a condição do “sexo frágil” (dotado de “fraqueza de nascença”) era a de pura e natural sujeição ao homem, é adotada como um dado com o qual é preciso reler, embora inconscientemente, toda a história do sacramento da ordem tornando-se doutrina.
Mas esses aspectos vivem em uma comunidade eclesial (e social) que nunca poderia ter se emancipado de um contexto histórico-cultural em que o próprio magistério “pensava” acabando por produzir uma estrutura “substancial” a partir de um dado “contingente”. O próprio Tomás não estava isento desse limite, ele que evidencia e declara explicitamente os motivos da incompatibilidade entre “sexo feminino” e “ordem”: a submissão natural e a incapacidade de autoridade. Tomás recolhe um “dado natural” pressuposto na época. E, vivendo na história e na cultura, é justo levantar a hipótese de que Tomás nunca sonharia hoje em defender tal declaração, já que, enquanto isso, a Igreja reconheceu, como um sinal dos tempos (cf. pp. 110-111; 134-135), a capacidade de autoridade pública da mulher no espaço público.
O texto, portanto, ajuda a apreciar a grandeza do gênio de Tomás, capturado em seu contexto histórico e capaz de se distanciar daquele método filosófico que o precedia e que confundia o nível ontológico com o nível gnoseológico. Tomás supera o idealismo hierárquico por meio da análise da realidade cultural. De fato: “Tomás, em todo esse caso, conserva um primado: fala claramente, não esconde seus argumentos e também distingue cuidadosamente o discurso antropológico e o discurso teológico” (p. 94).
Se a sacramentária e a sistemática não forem capazes de oferecer modelos menos ambíguos, as leituras aproximativas e descontextualizadas de Tomás e de toda a tradição cristã continuarão sendo os pressupostos do Catecismo e do Código, tornando-os ambíguos.
Grillo nos ajuda a retomar a tradição teológica no rastro de Tomás e levanta uma questão: “Se Tomás de Aquino pôde se valer da liberdade de atribuir a si mesmo e à tradição essa elasticidade de autoridade, por que nós deveríamos nos selar em uma ‘negação de autoridade’ e em uma ‘estática ministerial’ que nos tornaria escravos de uma tradição tão reduzida a um obséquio formal demais a uma série enorme de pesados preconceitos?” (p. 58).
Disto se pode deduzir que, se a sistemática reduz todo o simbólico à imediaticidade iconográfica (e alegórica), ela perde toda capacidade de propor, introduzir e formar à lógica sacramental. O que significa perder a capacidade de conduzir à e na experiência da fé.
Doutrina e história
É evidente que o delicado equilíbrio entre história e doutrina continua sendo um ponto fundamental para a pesquisa teológica. Grillo nos ajuda a aprofundar a diferença entre perfil histórico e perfil sistemático (var. XI, mas também pp. 30; 77 e outras), lembrando as palavras de Romano Guardini, que escreve:
“No mesmo objeto [...] há um devir e um ser, um mudar e um persistir, um efetivo e um vinculante. A pesquisa histórica está particularmente orientada ao primeiro, e a pesquisa sistemática, ao segundo. Eles, portanto, complementam-se no objeto e no método. Cada uma precisa dos resultados da outra como impulso e como autoverificação. Sem a história, a sistemática corre o perigo de construir de modo preconceituoso e arbitrário. Portanto, ela deve se apropriar dos resultados históricos e medir e retificar seus próprios resultados com base neles. Sem a sistemática, por outro lado, a pesquisa histórica se perde no fluxo do meramente factual; seus conceitos tornam-se confusos, e lhe escapa aquilo que há de permanentemente válido. Pelo contrário, os conceitos e as linhas sistemáticas ajudam-na a manter uma ordem interna” (p. 100).
Parece evidente que a metodologia teológica deve reconhecer e avaliar a integração entre forma histórica e forma doutrinal, verificando continuamente uma e a outra. A verificação de uma será a verificação da outra e vice-versa. Se uma doutrina se sustenta sobre um pressuposto historicamente não mais congruente (como o caso da escravidão, da pena de morte, da incapacidade natural da mulher à autoridade…) é claro que a sistemática deve distinguir e reconhecer a raiz da doutrina; ao mesmo tempo, se, para além da história, os fundamentos doutrinais vão se fortalecendo, isso significa que a doutrina precisará de maior desenvolvimento.
Essa referência entre doutrina e história é imprescindível para a elaboração de uma sistemática não ambígua e para um modelo hermenêutico e heurístico claro. Grillo lembra isso quando declara que “a relação entre história e sistemática deve ser adequadamente calibrada. Se usamos textos antigos, medievais ou modernos, devemos situá-los em seu contexto e pô-los em relação com os princípios sistemáticos elaborados, também eles, ao longo dos séculos e diferenciados por argumentações e perspectivas” (p. 42).
Portanto, é claro que a ciência histórica e a elaboração sistemática devem se integrar, embora mantendo-se no âmbito de suas próprias peculiaridades, pois “a história – escreve Grillo retomando a reflexão de Guardini – diz-nos o que foi, mas só a sistemática pode dizer-nos o que deve ser” (p. 61). Por isso, devem ser rejeitadas tanto as sistemáticas que não levam em conta as indicações da ciência histórica (e sociocultural) quanto aquelas argumentações que se autodefendem em um “sempre se fez assim” narcisista.
A verificação histórico-cultural (que deve identificar o que é contingente, ou seja, o que, embora não supérfluo, está “sujeito a condições historicamente mutáveis”, cf. p. 114, nota 1) deve produzir para a sistemática a sustentabilidade dos princípios e não deve justificá-los: caso contrário, a sistemática se reduz a precedentes históricos. O perigo inverso seria reduzir a sistemática a recursos históricos ou a historicismo.
A busca assídua do equilíbrio e da clareza entre história e doutrina não é uma tarefa secundária.
Magistério e tradição
Sobre o tema do texto, o magistério já ofereceu algumas aberturas no que diz respeito, por exemplo, à possibilidade do diaconato feminino (var. I). Na “variação I” fica claro que, no século XX, as tensões entre o “bloqueio da tradição” (cf. p. 76) e as “aberturas” tiveram que acertar as contas com o aprofundamento da possibilidade do exercício efetivo da autoridade eclesial da mulher, mesmo apenas no grau do diaconato. A tradição é a comunidade que encarna e, por isso, interpreta a Escritura. A consciência clara do teólogo é de que “a Igreja sempre esteve envolvida nesse tipo de processos hermenêuticos complicados” (p. 9). E o magistério hierárquico está dentro (e não fora) da tradição...
Nem se pode afirmar que a relação do magistério com a tradição passa apenas pela “vontade instituinte” de Jesus; sobre a relação entre a mulher e o ministério, o silêncio escriturístico indica isso, e as argumentações de dedução não são suficientes. Na verdade, deve-se reconhecer que a argumentação segundo a qual “se Jesus tivesse querido ordenar as mulheres, ele o teria feito. Se não o fez, é porque as excluiu” apresenta uma estrutura lógica que pode ser facilmente invertida: “Se Jesus tivesse querido excluir as mulheres da ordenação, ele o teria dito. Se não o disse, significa que não as excluiu” (p. 83).
Se o magistério hierárquico assume uma atitude “cada vez mais defensiva, encastelada e desconfiada diante de toda novidade possível no exercício da autoridade eclesial” (p. 17), ele permanece no risco da autonegação e da imunização aos desenvolvimentos, pois tenderia a afirmar a si mesmo, paralisando a tradição ao mesmo tempo. De fato, inflando a doutrina apenas com autoridade e bloqueando todo desenvolvimento (e, pior ainda, todo debate), o magistério hierárquico incorreria na negação da tradição e, portanto, na autonegação, pois a função da hierarquia é a de garantir a sã tradição, na qual também há um desenvolvimento claro e possível. A fidelidade à tradição não deve ser confundida com a autorreferencialidade eclesial. Para muitos, as fronteiras de tal confusão permanecem desconhecidas. Pelo contrário, torna-se cada vez mais indispensável recuperar a relação “original” entre Evangelho e experiência (cf. p. 62). Também por isso, a estratégia de se negar autoridade parece ser, por um lado, a autonegação do magistério hierárquico, mas, por outro, como a autoafirmação clericalista do poder (cf. p. 76), que exclui as mulheres da autoridade sem maiores justificativas (cf. p. 50), reconfirmando as “competências clássicas” (cf. p. 63).
De fato, “a raiz do impedimento não é dogmática, mas cultural” (p. 81) e tal raiz deve ser reconhecida. Isto nos ajuda a recordar que a relação entre tradição e magistério não pode se desenvolver em um clima apologético e ambíguo ou apenas com argumentações de autoridade. O próprio Tomás recorda isto: “Se nós resolveremos os problemas da fé apenas com o método da autoridade, certamente possuiremos a verdade, mas em uma cabeça vazia” (citado na p. 61). Se o magistério não refletir sobre os desenvolvimentos doutrinais, correrá o risco de não distinguir entre “a substância da antiga forma do depositum fidei” e a “formulação de seu revestimento” (cf. p. 145).
E cabe ao magistério teológico oferecer ao magistério hierárquico verificação e atenção para equilibrar “substância” e “revestimento”, para evitar equívocos e aproximações. O magistério hierárquico deve tutelar, ajudar e apoiar a tradição: mas, se se autonegar ou se autoimpuser, correrá o risco de se encastelar na pirâmide da hierarquia e perderá a vitalidade de seu próprio munus docendi.
O texto de Grillo, portanto, deve ser recomendado à leitura e não apenas em referência ao tema abordado, mas também porque oferece referências importantes que equilibram os binômios mencionados e dos quais ofereci apenas um esboço.
A perspectiva teórica continua totalmente razoável e evidencia como se torna cada vez mais insustentável propor apenas argumentos de autoridade sem a atenção devida à inteligência e à fé.
Em conclusão, o texto repropõe uma tarefa bastante delicada da teologia contemporânea: circunscrever e esclarecer, em vez de definir e sentenciar.
Portanto, é um texto que eu recomendaria a todos: teólogos, estudiosos, mulheres e homens interessados; e, por último, mas não menos importante, eu o recomendaria aos pastores, que realmente têm muito a fazer para não ignorar os caminhos de reflexão sobre uma das muitas questões abertas da práxis e da vida da Igreja.
Um texto que ajuda a crer com imaginação, a pensar com inquietação e a refletir com incompletude, e que serve para não fechar os olhos sobre a Igreja e dentro dela, e a não abandonar a cabeça e o coração em uma (falsa) paz.
1. O teórico flamengo Johannes Tinctoris atuou em Nápoles nos anos 1470 a serviço de Fernando I de Aragão, de cuja filha Beatriz ele era pedagogo.
2. Cf. Livro 1, cap. V. O primeiro e o segundo efeitos referem-se a Deus e são Deum delectat (alegrar a Deus) e laudes Dei decorat (honrar os louvores de Deus). Os outros se referem à Igreja, a obras de misericórdia, a efeitos estéticos em geral.
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O sexo feminino impede que se receba a Ordem? Um comentário sobre o novo livro de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU